sábado, 7 de agosto de 2010

TRATAMENTO

Avaliar o estado geral do doente

• Iniciar o ABC (Airway - Breathing - Circulation), avaliando respectivamente a condição de permeabilidade das vias aéreas, a efectividade da respiração, o pulso e a perfusão, procedendo às manobras de reanimação, que se façam necessárias.

• Iniciar o controlo de sinais vitais e monitorização

• Manter o doente em decúbito dorsal para:

• Manter permeabilidade das vias aéreas

• Facilitar a circulação

• Facilitar procedimentos

• Administrar ADRENALINA 1:1000 (1 ml = 1 mg) por via intramuscular (preferencial em crianças, porque a absorção é mais rápida) ou subcutânea. Dose:

Crianças até 30kg: 0,015 mg/kg/dose (máx. 0,3ml)

Adolescentes e adultos: 0,2 a 0,5 ml/dose

No choque usar 0,1 ml/kg da sol. 1: 10.000 por via IV (Sol. 1:10.000 = 1 ml de 1:1000 + 9 ml de água destilada)

Em casos graves, quando há paragem cardíaca e não há acesso venoso, a adrenalina pode ser feita por via endotraqueal, na dose de 0,1 ml/kg, da apresentação 1:1000.

Em quadros ocasionados por injecção administrada por via intra-muscular (ou picada de insectos), metade da dose de adrenalina aquosa 1:1000 pode ser injectada no local, para inibir a absorção do agente alergênico.


Uso de corticosteróides na anafilaxia

No atendimento inicial, o valor do uso de corticosteróides é discutido, porém preconizado por diversos autores, os quais justificam o uso como forma de controlo da reacção inflamatória tardia. O consenso da AAAA propõe usar essas drogas, se a resposta ao tratamento inicial for insatisfatória ou, ainda, se o quadro inicial for grave.
Doses de corticosteróides:

Metil-Prednisolona - ataque: 2mg/kg - manutenção: 1 mg/kg/dose a cada 6 horas.

Hidrocortisona - ataque: 10 mg/kg - manutenção:20 a 40 mg/kg/dia, divididos em até 6 doses.

Prednisona - 1 mg/kg/dia em uma ou 2 doses.

Prednisolona - 2 mg/kg/dia em 2 doses.

Dexametasona - ataque: 0,25 a 0,5 mg/kg/dose - manutenção 0,5 mg/kg/dia em 4 doses.

QUADRO CLÍNICO

Anafilaxia apresenta-se, nos serviços de emergência, geralmente, configurando-se como um ou mais dos seguintes quadros iniciais: urticária, edema de Quinke (angioedema) e/ou broncoespasmo. A partir dessas manifestações, o quadro pode evoluir, rapidamente, para o choque anafilático e as suas consequências. As manifestações clínicas são semelhantes, seja uma anafilaxia verdadeira, seja um quadro anafilactóide.

Choque anafilático em instalação: inicialmente, o doente descreve sensações de formigueiro na região palmar, de morte iminente (forte mal estar). Normalmente, é nesse momento que o indivíduo procura ajuda. Não ocorrendo intervenção, o quadro vai agravando-se e o doente fica pálido, cianótico, com sudorese profusa. A urticária pode surgir no decorrer do processo. A respiração passa a ser rápida e superficial; o pulso torna-se mais fino e até imperceptível. O doente chega à hipotensão rapidamente. Há má perfusão central e periférica, causando depressão SNC e o choque propriamente dito. A apresentação clínica da anafilaxia é variável e o tratamento deverá ser instituído de acordo com essa variação. A rapidez com que são iniciadas as medidas terapêuticas é fundamental, impedindo a progressão do quadro e evitando complicações. É também importante estar atento após o controlo da situação, uma vez que o quadro pode ser bifásico. Além disso, os sintomas poderão recrudescer enquanto houver complexos antígeno/ anticorpo circulantes.

FACTORES QUE INFLUENCIAM NA GRAVIDADE DO QUADRO

• Tempo decorrente desde a exposição ao alérgeno: quanto menor o tempo decorrido entre a exposição ao alérgeno e o surgimento das manifestações clínicas, maior a probabilidade de ocorrer um quadro grave.

• Sensibilidade individual

• Quantidade do alérgeno

• Velocidade de contacto: a velocidade depende da via de penetração do alérgeno no organismo: infusão venosa, inoculação parenteral, distribuição pela pele, absorção oral, inalação.

PRINCIPAIS AGENTES

• Drogas: penicilinas, cefalosporinas, sulfas, quimioterápicos, anti-inflamatórios não esteróides.

• Alimentos: frutos do mar, leite, ovos, leguminosas.

• Substâncias inoculadas por insectos ou cobras.

• Infusões biológicas: proteínas humanas, derivados sanguíneos.

FISIOPATOLOGIA

Para que um indivíduo apresente um quadro anafilático, é necessário que tenha havido, previamente, o processo de sensibilização do organismo, levando à produção de anticorpos específicos. Ocorrendo uma reexposição ao alérgeno (antígeno), uma reacção antígeno–anticorpo é provocada, havendo degranulação de mastócitos, libertação de histamina, citocinas, bradicininas e leucotrienos, as quais orquestrarão a reacção alérgica, que resultará nas manifestações clínicas. As principais alterações provocadas pela reação anafilática, a nível tecidular são:

• Contracção da musculatura lisa de brônquios, intestino, útero e vesícula.

• Dilatação vascular, causando extravasamento de líquido para os tecidos, levando à urticária e edema de mucosas e também de algumas vísceras.

• A quantidade de sangue circulante diminui, levando a taquicardia e, algumas vezes, à falência cardíaca.

É importante lembrar que o intervalo entre o primeiro contacto com o alérgeno e a reexposição pode ser curto ou longo (4 a 5 horas). Nalguns casos, alérgenos medicamentosos, injectados por via parenteral, podem causar reacção anafilática desde a primeira exposição. Nessa situação, o anticorpo vai sendo utilizado à medida que vai sendo produzido.

ANAFILAXIA

As reações anafiláticas são manifestações clínicas que ocorrem como resultado de reacções imunológicas mediadas por IgE (do tipo I de Gell e Coombs), com apresentação súbita e grave. As chamadas reacções anafilactóides são causadas pelos “agentes anafilactóides”, que são substâncias capazes de produzir directamente a degranulação de mastócitos, sem que haja a participação de IgE. Dados da American Acadeny of Asthma, Allergy and Immunology (AAAA), em 2002, mostram que a incidência anual de reações anafiláticas, nos Estados Unidos da América, está em torno de 30 para 100.000 pessoas. O risco relativo de apresentação de quadros de anafilaxia é maior nos indivíduos portadores de asma, eczema, alergia alimentar, história de reações alérgicas a vários antibióticos, além de pacientes em uso de beta-bloqueadores.