sábado, 28 de março de 2009

Monóxido Carbono: Actuação

Antes de qualquer abordagem à vítima é necessário verificarmos se estão reunidas as condições de segurança para a nossa actuação. Deste modo é importante ventilar toda a zona abrindo portas e janelas e de seguida afastar e desligar todos os aparelhos que possam ser potenciais produtores de monóxido de carbono.
A abordagem à vítima, deverá ser efectuada segundo ABCDE, respeitando sempre as regras de segurança.
Sendo assim a remoção da vitima do local da exposição o mais rápido possível é de extrema importância pois estaremos também diminuir a percentagem de monóxido de carbono em circulação. Administrar oxigénio por mascara facial a 100% o que reduz a semi vida da carboxi-hemoglobina de 4-6 horas para cerca de 1 hora. O tratamento através de oxigénio hiperbárico também será um procedimento a adoptar, visto reduzir a semi-vida da carboxi-hemoglobina de 6 – 4 horas para cerca de 15 a 30 minutos, reduzindo também a duração do estado comatoso.
O uso do oxigénio hiperbárico poderá estar muito limitado devido ao reduzido número de câmaras hiperbáricas no nosso país e a grande afluência a estas para a realização de inúmeros tratamentos. Apesar deste contra tempo as vítimas que apresentem níveis de monóxido de carbono acima dos 40% têm indicação extrema para tratamento com oxigénio hiperbárico bem como as vítimas com níveis acima dos 25% com presença de convulsões ou arritmias graves.
No que respeita à manutenção da via aérea a intubação endotraqueal poderá ser uma boa escolha, devido à necessidade de se fazer oxigénio a 100%, mas esta decisão irá depender de alguns factores, como por exemplo:
-A causa da inalação de monóxido de carbono (incêndio, aparelhos eléctricos, combustão em espaço fechado, etc. …)
-Estado de consciência da vítima
-Dificuldade respiratória aguda
-Tempo de chegada à unidade hospitalar
-Presença ou não de lesão inalatória
A monitorização deverá ser efectuada assim que possível, recomenda-se a monitorização da oximetria, frequência cardíaca, ECG e pressão arterial.
Através destes procedimentos vamos detectar algumas alterações que nos podem ser úteis na tomada de decisões.

O oximetro, para além da frequência cardíaca fornece-nos informação muito importante sobre a eficácia da oxigenoterapia e sobre a perfusão dos tecidos, no entanto este dispositivo não se encontra preparado para distinguir a oxihemoglobina da carboxihemoglobina, fornecendo deste modo falsos valores de saturação, registando muitas vezes valores de saturação de oxigénio elevados (Fig 1), em vítimas com elevados níveis de intoxicação por monóxido de carbono. No que respeita à frequência cardíaca podemos identificar com frequência uma taquicardia sinusal.

No ECG; as alterações electrocardiograficas poderão incluir como já referi atrás uma taquicardia sinusal (Fig 2) e para além desta alteração poderá estar presente uma depressão do intervalo ST, achatamento da onda T e extra-sistole ventricular.

Em relação à tensão arterial poderá estar presente uma hipotensão.

Perante este quadro torna-se importante também iniciar fluidoterapia, sempre que possível com um acesso venoso de bom calibre G16 ou G14, podendo haver necessidade de se recorrer a agulha intra-óssea caso o acesso venoso seja díficil ou mesmo impossível por existência de queimaduras graves.
No que respeita a terapêutica, se estivermos na presença de broncospasmo poderá estar indicada a administração de um broncodilatador (salbutamol ou aminofilina).

1 comentário:

Unknown disse...

gostaria de felicitar este post pela escolha deste tema que está em muito esquecido neste país que tem uma tradição de braseiros e a más construções habitacionais que levam a intoxicações frequentes por monóxido devido a problemas de exautão das casas. Sou enfermeiro e trabalho na unidade de medicina hiperbárica do hospital Pedro Hispano e também na VMER do mesmo hospital. Gostaria de complementar a informação correctíssima que aqui colocou, acrescentando que o móxido pode perdurar nos tecidos profundos e que o tratamento com oxigénio hiperbárico poderá ter interesse nos nas primeiras 24 horas por forma a minimizar a incidencia de lesões neurológicas tardias.

Manuel Lopes